Aos 38 anos, quatro disputas eleitorais no currículo — duas delas vitoriosas —, José Antônio Reguffe (PDT) conseguiu o que parecia improvável aos olhos de uma cidade recém-abalada pelo maior escândalo político de sua história: foi eleito o deputado federal proporcionalmente mais bem votado do país carregando a bandeira da ética e da moralidade na política. Reguffe recebeu o Correio em sua casa, no Lago Sul, no fim da tarde de ontem, quando falou sobre sua eleição, os projetos para os próximos quatro anos e sobre o que espera das eleições para o GDF.
A vitória por 266.465 votos, 18,95% do total, teve um impacto avassalador sobre o jornalista e economista. Passadas quase 20 horas do anúncio do resultado, Reguffe estava visivelmente comovido. “Quando tinha 90% das urnas apuradas, comecei a chorar e chorei por quase uma hora e meia. Não tenho palavras para descrever o que senti e o que estou sentindo”, disse.
Até colher a maior conquista de sua carreira política, ele foi derrotado duas vezes nas urnas. A primeira em 1998 e a outra em 2002. No primeiro mandato, conquistado em 2006, adotou uma postura de independência. O fato de se apresentar como oposição não o impediu de votar com o governo em projetos que considerava bons para a população nem que fosse voz solitária na defesa de propostas em que acreditava.
Em quatro anos, aprovou seis projetos de lei de sua autoria. Entre eles, o que torna obrigatória a instalação de estacionamento de bicicletas em locais com grande fluxo de público e o que incentiva a redução do consumo de água por meio de um bônus-desconto de 20% sobre a economia, creditado diretamente na conta de água. Como deputado federal, sua prioridade será promover uma ampla reforma política.
“Reconheceram o mandato que fiz”
"Tanto na eleição para presidente como para governador, considerei os debates extremamente frágeis em termos de propostas" |
Como é saber que o senhor foi, proporcionalmente, o deputado federal mais bem votado do país?
Para mim, foi uma emoção muito grande. Penso que foi um reconhecimento da população do Distrito Federal ao mandato que fiz e à luta que tive. Podem criticar o meu mandato por qualquer coisa, mas não podem dizer que eu não tenho cumprido os meus compromissos de campanha. Fiz nele exatamente o que me propus a fazer e isso me orgulha muito. Eu, quando soube, acompanhando a apuração, comecei a chorar e fiquei chorando sem parar por pelo menos uma hora e meia. É uma sensação indescritível, não tenho palavras para descrever o que senti.
O senhor foi eleito com o discurso da ética e da moralidade pública. Há entre seus eleitores quem esperava uma atuação mais combativa. O que essas pessoas podem esperar da sua atuação nos próximos quatro anos?
Essa é uma crítica que não procede. Enfrentei os deputados distritais desde o início em vários temas. No projeto de redução da verba de gabinete, cheguei a votar sozinho. Tive vários embates no plenário sendo minoria em praticamente todos os temas e, em alguns deles, estive sozinho. Se alguém pensa isso (que não fui combativo), deveria assistir à TV Câmara e ver o que foram esses embates.
O fim do voto obrigatório é uma das suas propostas de campanha. De que forma o senhor acha que o voto facultativo vai refletir no processo democrático?
Hoje, muitas pessoas votam sem fazer a reflexão devida que esse gesto merece. O voto obrigatório faz com que o poder econômico deite, role e exerça uma enorme influência sobre a decisão do eleitor. Contrata-se gente à beça e essas pessoas não se sentem compradas, sentem-se trabalhando. Hoje, quando as pessoas votam sem querer, o resultado é o Tiririca. Com o voto facultativo, acredito que não teríamos o Tiririca. Esse é apenas um dos pontos de uma ampla reforma política que defendo.
Quais são os outros pontos dessa reforma?
Proponho o fim da reeleição para cargos do Executivo e apenas uma reeleição para cargos legislativos, a proibição de doações privadas e a instituição do financiamento público de campanhas — não nos moldes do que tramita no Congresso Nacional, porque, se der dinheiro na mão de político, vai ficar pior do que está. Vai ter gente se candidatando só para ganhar dinheiro. Proponho que os tribunais regionais eleitorais e o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) façam licitação de gráfica e produtora para panfletos e programas de TV com o mesmo padrão. A pessoa vai ter que ganhar no conteúdo, no gogó.
A eleição para o senhor acabou no último domingo, mas a disputa ao GDF continua indefinida. Qual leitura o senhor faz desse momento político?
Considero lamentável que o nosso sistema jurídico gere a insegurança toda que houve no primeiro turno e permita essas mudanças todas que tiveram. Acho que a Justiça fez com que a nossa eleição fosse um tanto quanto conturbada, bagunçando a cabeça de muitos eleitores. E é claro que espero que Brasília faça a opção por um novo caminho e vote em Agnelo Queiroz.
Nessa nova fase da campanha para o GDF, como o senhor acha que deve ser a estratégia de campanha na reta final de disputa?
Tanto na eleição para presidente como para governador, considerei os debates extremamente frágeis em termos de propostas. Política, para mim, tem que ser propositiva. Quero ver um debate que discuta um projeto de cidade e de país para o futuro.
Entre os eleitos para a Câmara Legislativa, 13 não fizeram parte da última legislatura e oito reconquistaram suas cadeiras, apesar de terem sido citados no inquérito da Operação Caixa de Pandora. Qual leitura o senhor faz desse quadro?
Tenho que respeitar a vontade da população, mesmo quando essa não é a minha.
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